Quem cala, consente?

Esta é uma máxima que me irrita solenemente.

Talvez seja por a ver aplicada constantemente em contradição com o que as pessoas realmente pensam, o que me leva a pensar que essas pessoas não têm opinião - o que nem sempre é verdade.
Se não têm opinião sobre questões que lhes dizem directamente respeito, é bom que estruturem uma - por mais elementar que seja; se têm opinião, porque não a expressam?

Tanto a ausência de opinião como a sua não-expressão se reflectem na perda de liberdade (pessoal e colectiva) e - regra geral - na usurpação de direitos dos outros para proveitos próprios.

Pior... quando há falta de seriedade por parte de quem gere/governa, criam-se situações de esclavagismo auto-induzido e indutor, eleito por silêncios ensurdecedores que calam opiniões discordantes e esganam as vontades mais tímidas.

Quebrem-se as barreiras do preconceito e aprendamos a ouvir os outros com respeito. E se achamos que o que ouvimos é absurdo, chamem-se os interlocutores à razão através de argumentos bem fundamentados.

Se quem se cala não quer consentir, então que fale e páre de se flagelar!

3 comentários:

Anónimo disse...

A irritação que possa sentir relativamente a uma máxima (i.e. um bocado da sabedoria popular - consciência colectiva - que fica cristalizado e perdura no tempo) é a 11:demonstração da concordância que intrinsecamente sinto relativamente a ela, associada com a consciência de já demasiadas vezes ter ficado calado sem para isso estar de acordo com o que se passa à minha volta.

Não acho que existe uma obrigação moral de ter opiniões, até porque não é para mim um esforço, estas aparecem-me constantemente e revelam-se enquanto resumo de uma experiência de vida no confronto com uma realidade que vivo no momento presente.

Acho até, que é impossível não ter opinião. Uma opinião pode até ser "apenas" uma resposta emocional imediata (e por mais que existam mecanismos e dinâmicas sociais que embotam, adormecem e até recalcam sentimentos e emoções, é impossível não sentir nada), o que acho possível é que não se considere "importante" tomar consciência ou, numa fase imediatamente seguinte, não se considere "válido" dar voz e exprimir estas emoções/opiniões. A pergunta que se coloca aqui será então: porque? Porque é que desenvolvi um mecanismo que automaticamente, e sem pensar nisso, assume estratégias passivas de partilhar a minha opinião? (chamo esta "não-acção" de estratégia passiva de mostrar opiniões, porque considero ser impossível não comunicar nada; a não acção ou a não conformidade com uma expectativa social num determinado momento é uma escolha, [consciente ou não] de uma comunicação [activa ou passiva] que é a resposta que "eu" escolho para que esta seja visível e analisável por outro - o acreditar que a "não-acção" não seja isso implicaria acreditar que as pessoas não pensam ou que de alguma forma não são responsáveis pelas próprias acções/não-acções)

Resolvido o problema da impossibilidade de não ter opiniões, salvo seja, ao tê-las inevitavelmente o que seria pertinente perguntar seria então, tenho uma obrigação moral de as partilhar? se sim, porque? se não porque? Seja qual for a resposta, acho que prende-se também com a questão da liberdade. De uma forma geral concordo com o que escreveste, no entanto, não acho que seja grave. Na óptica de uma prática realmente democrática, após a escolha em consciência do individuo de partilhar ou não as suas opiniões crenças e valores, existe sempre a possibilidade de que a maioria ache o contrário. Ou então que a maioria, através de praticas sociais que existem, demonstrem que o "modus operandi" seja contrário ao que eu acredito. E não é grave, se realmente se acreditar que a democracia é o menor de todos os males (no que respeita sistemas de governação) sendo sempre "fiel" ao que se acredita não há que ter medo em NOS enganarmos é a única forma de aprender-MOS. Só acrescentaria o seguinte:

Se quem se cala não quer consentir, então que fale [ou que acate] e pare de se flagelar!

Anónimo disse...

O problema que levantei prende-se exactamente com a "não-acção" - ou, simplificando, com a passividade da maioria do colectivo a que pertencemos perante algo.

A passividade geral, segundo me parece, resulta de duas situações distintas: uma de carácter natural (mínima entropia); e outra cultural.

A natural é evidente; discutir o que quer que seja consome energia, que é preciosa para a sobrevivência de qualquer ser vivo. É energeticamente mais inteligente ficar calado... ou então, não.

Quanto à cultural, creio ser o resultado do analfabetismo geral da população portuguesa (no passado recente), aliado à repressão da ditadura (extremismos consequentes) catalizados por uma sociedade altamente religiosa. Nós somos apenas o reflexo de gerações anteriores; somos o produto da cultura dessas gerações.

O que não percebo é como é que a cultura, com o advento da internet, está a demorar tanto para se alterar e com tanta resistência...


A (aparente) contradição sobre a entropia reside num conjunto de observações simples: o facto de nós consumir-mos mais energia do que necessitamos para sobrevier, muito mais - logo temos de a gastar nalgum lugar; e o facto de, poupando essa energia a curto-prazo, acabar-mos por consumir muito mais a tentar corresponder às exigências que nos colocam, a longo-prazo.

Quanto à tua emenda, creio que entra em conflicto consigo mesma, na medida em que "não consentir e acatar" traduz-se em "auto-flagelação" - voltando à questão inicial...

... afinal, "quem cala, consente?"

Anónimo disse...

Não meu, acatar não tem uma conotação negativa, ao menos não queria que tivesse, se o tem para ti, isso merece ser analisado...

a questão da segunda lei da termodinâmica é um pouco mais complexa que isso mas no entanto a lei da conservação da energi diz-nos que a quantidade de energia no universo é sempre a mesma (nada se perde nada se destroi tudo se transforma?!?... Lavoisier) a pergunta não é dicotómica, ou seja, o que tu chamas de excesso de energia é sem dúvida aplicado em algo que não estas a considerar e que provavelmente será de onde virá o novo avanço da humnidade (estes aparecem periodicamente e sempre do lugar que menos se espera), ou então está a ser transformado em gordura, ha muita gente gorda na lusiada? lol

a serio agora, o problema não é localizado, nem à lusiada, nem ao curso de arquitectura, nem a portugal, nem à europa, estamos (acho eu) em fase de adaptação. Se ha uma coisa que a história nos ensina é que as coisas acontecem de forma ciclica. Na pior das hipoteses (se não existir uma massa crítica de pessoas que fornecem uma alternativa viavel ao ciclo em que nos encontramos) havemos de voltar a um periodo de opressão e de totalitarismo (talvez não político mas económico e talvez ja ca esteja), onde vão acontecer coisas ainda mais escabrosas do que vimos na 2ª Grande Guerra (com requintes de malvadez que nos surpreenderão certamente), que vai acabar com uma reviravolta/revolução (violenta ou não) produto de um sentimento generalisado de: "como foi possivel chegarmos a isso, parecia estar tudo a correr tão bem". Novamente nos encontraremos numa época de prosperidade e liberdade (que vai ser concebida de um modo substancialmente diferente do que nós agora concebemos) e mais uma vez teremos outra possibilidade para ou voltar a ser "vítimas" de este ciclo em que nos encontramos, ou então a massa de pessoas que pensem de forma diferente chegará a valores críticos que farão com que o processo não tenha retorno possível.
Qual é essa alternativa não sei, mas estou aberto a sugestões.

Resumindo, sem nunca usar isto como desculpa para uma não-acção que contrarie os proprios valores morais e sociais, as pessoas são o que são e a quantidade/qualidade de mudança que se consegue atingir a nivel social é sempre muito mais lenta do que quereriamos (acho que um senhor qq com o nome de A.Hitler cansou-se de esperar e tentou implementar mas cenas à sua medida, e deu no que deu né).
As mudanças pessoais serão sempre mais rapidas que as sociais (como a lei que ficará sempre àquem das praticas reais de um pais), mas mais importante que tudo não podem ser manipuladas. Incentivadas, promovidas e até desejadas mas nunca, nunca, nunca cair no erro de presumir prever o que se vai passar, a realidade tem a magnifica capacidade de nos surpreender.

Finalmente, consentir, acatar, calar, etc. não são necessáriamente negativos (nem vou começar a falar do positivo vs. negativo enquanto conceitos fluidos e criados pelo homem), não se tem por base a interiorização do significado da vida em contexto democrático e não se forem produto de uma acção e não de uma não-acção. A culpa (ou auto-flagelação), sendo um dos sentimentos mais estúpidos que existe (é um jugamento de ti por ti) só dura enquanto quiseres e não é a razão da apatia generalisada de que falamos. É sim consquência do medo intrinseco que existe em cada um relativamente à mudança e ao desconhecido que esta mudança acarreta, e até acaba por ser confortavel, salvo seja, recorrer à auto-flagelação em vez de assumir o risco de fazer qq coisa que não sei como vai acabar...

não consentir e acatar só se traduz em auto-flagelação quanto não existe consciência democrática e quando somos "putos mimados" que tem que ter as coisas à sua maneira.